Após o fracasso em duas olimpíadas consecutivas – Pequim 2008 e Londres 2012 – , o baiano Robson Conceição sabia que a pressão para as Olimpíadas do Rio era grande, mas a experiência vivida nos Jogos anteriores o preparou para a conquista da inédita medalha de ouro no boxe brasileiro, na categoria peso leve.
Após vencer no primeiro round Anvar Yunusov, do Tajiquistão, Robson enfrentou Hurshid Tojibaev, do Uzbequistão, nas quartas, e encontrou o adversário mais temido na semifinal, o cubano Lazaro Alvarez, para quem já havia perdido em confronto no passado.
Destemido, conseguiu vence-lo por decisão unânime dos juízes e foi para a disputa do ouro contra o francês Sofiane Oumiha. A torcida em peso pressionava o adversário do brasileiro com gritos de “uh, vai morrer!” e “um, dois, três, porrada no francês!”, um estímulo para que o baiano dominasse o ringue e eternizasse seu nome na história olímpica brasileira.
Leia abaixo o depoimento do único medalhista de ouro no boxe brasileiro, conquistado nos Jogos do Rio, na categoria peso leve:
Eu era um atleta jovem com pouca experiência em jogos olímpicos, até em jogos pan americanos, nunca tinha vivenciado uma vila olímpica. Então no primeiro momento, nos primeiros jogos olímpicos que eu participei, tudo pra mim foi novo, tudo deslumbrante, né? Então tudo que você via, todos os atletas… você queria tirar foto, queria estar pra cima e pra baixo correndo pra ver se encontrava alguém. Praticamente eu fui bem preparado, mas não tinha foco, não tinha aquela determinação de se conquistar um objetivo. E também, infelizmente, nos dois jogos ( Pequim e Londres), a estreia foi com os donos da casa, então foi uma coisa que dificultou muito mais, uma coisa de ter aquela pressão de lutar com os donos da casa. Era sempre muito mais difícil. Eu estava bem preparado, porém não obtive o resultado que todos esperavam, né? E nos Jogos Olímpicos Rio 2016, eu estava em casa, né? Com a motivação de ter a torcida, de ter o público ao meu favor, e vim muito mais experiente…
Só de estar em casa, mais próximo da família, poder me preparar em São Paulo, poder fazer uma parte da preparação na Bahia, na academia Champion, então eu tava muito bem determinado e muito mais focado. Entrei na vila sem aquela perspectiva de ver ninguém, de tirar foto com ninguém. Eu já tinha vivenciado isso, então aquilo pra mim já não era uma coisa nova, eu já tinha vivido tudo aquilo. Então aquela era a hora de eu me focar e me determinar, e estar bem preparado para conquistar o foco que foi a medalha olímpica.
Eu consigo lembrar cada segundo daquele momento, né? A partir do momento que eu fui pra arena, saí da vila olímpica, a gente ia caminhando mesmo pra vila que era do lado. Já fui preparado né, com a sapatilha, short, a camisa vermelha, chegando lá a gente pode sentar um pouco, descansar, e começar a preparação… Por a bandagem na mão, fazer o ritual de oração com equipe inteira. E o momento que começou a me anunciar, os técnicos agoniados… “Tá chegando a hora, viu campeão?” Passando aquela energia positiva, acreditando no meu trabalho e no meu potencial. E quando anunciou de verdade, eu pude sentir a vibração da torcida batendo na arquibancada, chamando meu nome, senti uma determinação muito grande!
Aquele momento, foi um momento muito emocionante, até porque a partir do momento que anunciou minha luta, que eu vim passando por debaixo da arquibancada, o pessoal começou a bater na arquibancada, chamar por meu nome, então eu já vim emocionado dali. A partir do momento que eles começaram a bater, já veio aquela determinação, aquela vontade vencer, de lutar, de buscar a vitória.
Então no primeiro assalto, eu consegui buscar mais a luta, eu busquei a luta pra poder já manter o meu ritmo, pra tentar avançar nos pontos, né? Então eu fui mais pra cima do meu adversário, onde eu consegui aplicar bons golpes nele e daí manter uma boa distância de pontos. No segundo assalto, mantive no mesmo ritmo, né? No terceiro, já sabia que eu estava com a vitória, e procurei boxear um pouco mais e me defender pra não me expor muito e conseguir manter a vitória.
Eu me sinto muito orgulhoso de saber que tinha criança que se espelhava em mim, que acreditava em mim, no meu potencial. Eu tive um início no boxe muito difícil, sem apoio, sem patrocínio. Vim de projeto social, que costumamos falar que dos projetos sociais é que saem os grandes campeões da vida. Não só do esporte, mas do esporte e da vida. O esporte, principalmente o boxe, salvou minha vida. Se não fosse pelo boxe, talvez hoje eu não estaria mais aqui. Então eu fico muito agradecido por todas as crianças, por todas as pessoas que acreditam em mim, e fico muito feliz de saber que eu representei muito pra elas
É muito emocionante, né? Saber que eu fiz parte da história do boxe, não só brasileiro, mas do boxe mundial. De poder conquistar a primeira medalha olímpica para o Brasil. Então aquela foi a minha recompensa. No momento que eu recebi a medalha olímpica, eu pude refletir um pouco da minha história, minha carreira, meu início sem apoio, sem patrocínio, o tempo que eu vivi longe da minha família, todas as dificuldades… Então pra mim foi muito feliz aquele momento!
Essa medalha representa um fato inédito, né? A primeira medalha de ouro pro boxe brasileiro! Por trás dela tem uma história, né? Uma história de vida, história de dificuldade, uma história de guerreiros e guerreiras… Então essa medalha representa muito pra mim.